As bandas começaram a tocar. A noite já ressaltava a escuridão dos que ali estavam presentes. Todos de pretos? Nem todos, eu pelo menos não. Estereótipos a parte, vou começar a descrever do momento em que cheguei até o fim...Nunca tinha visto um show de rock tão cheio em minha cidade. Era quase inacreditável ver aquelas pessoas, muitas representavam ídolos antigos, sim, aqueles que sempre compareciam aos shows no Euterpe (pra quem não lembra, o lugar onde a galera se encontrava há alguns anos atrás). Pessoas que hoje não gostavam mais de ir aos shows, pessoas que adquiriram um outro modelo de vida, uma nova filosofia. Pessoas que nunca tinham ido ao um show underground também estavam lá. Pessoas que hoje não se falam, e que há um tempo atrás era melhores amigos. Encontros e desencontros. Cigarros, cerveja, maconha e outras coisas que eu já não lembro mais.
O cheiro exalava Rock, só quem ama música sente isso, um tipo quase indecifrável, uma sensação que lhe envolve até a alma. Um arrepio quase que constante.
Primeira banda, Cascadura, com certeza você já ouviu falar, aqueles rapazes que tocaram com a Pitty no VMA, e que fizeram um tributo a Úteros em Fúria. Não que eu não ache legal, talvez legal até seja, mas eu não gosto do estilo, eu ando muito centrada no meu hard core. Um vicio eterno. O mais engraçado disso é que depois de terem tocado o guitarrista ficou passeando pelo Espaço Nobre, eu estava na fila do banheiro masculino, calma, eu estava só acompanhando meu namorado. Quando de repente, alguém toca de leve as minhas costas e me entrega um cd. Pergunto: Para mim? E ele responde, sim. Digo obrigada sem nem saber o que tinha em mãos, e ele sai sorridente, talvez eu fosse a única pessoa ali que não estava eufórica de vê-lo me presentear. Sim, ganhei um cd do Cascadura, o que vou fazer? Pedi pra Bruno guardar, até hoje não vi a cara. Enfim, voltando ao começo do show deles, claro, eu não estava lá na frente pra curtir, mas curiosamente, havia uma televisão no bar, o rapaz entregava o pedido e você ainda podia assistir ao jogo do Flamengo Nossa, não podia acreditar que tinham tantas pessoas assistindo jogo em pleno show do Cascadura. E eu estava lá observando tudo. Acho que não era só eu que não curtia aquele som.
Segunda banda: Clube de Patifes. Primeiro devo parabenizar a banda pelos seus 10 anos de existência, cantaria até uns parabéns para você aqui, mas estou com preguiça e vocês merecem mais que isso. O fato de Matanza ter vindo tocar em Feira só poderia ter vindo dos caras que estão movimentando a cena ultimamente. Jogando um verdadeiro balde de água fria em muita gente que apenas fala e não faz nada. Um excelente show, com muitas performances, lições de vida, critica ao publico que anda meio dividido, e bota dividido nisso... A clube é uma banda fantástica que toca blues. Letras próprias, cover de Raulzito pra galera não ficar triste pedindo o “Toca Raul” sem resposta, sem bem que se fosse ao show do Zeca Baleiro, não ia ter Rauzito, ia ter a nova musica dele estratégia para esses pedidos.
Terceira e ultima banda, a sensação da noite, meu coração estava palpitando para ver, estava nervosa, será que eles vão tocar aquela musica? As pessoas começavam a se aglomerar na frente do palco, o roadie passava o som deles, gritava para imitar a voz do Jimmy, e o mais engraçado foi quando o rapaz do som tentou imitar também, ri muito.
A guitarra começa a gritar, a bateria na velocidade máxima o baixo arrebentando com quem não gosta do greve, Sim, o Matanza começa a tocar. Ele com os cabelos todos bagunçados, ar de macho, muito macho. Tenha medo desses...Nem parece o Jimmy das entrevistas, todo fofinho, chamo mesmo. Derrubo o serviço. Sim, ele começava a cantar com a sua voz grave de doer, porém maravilhosa. Só quem estava no show para sentir o que é hard core de verdade. O poeirão começa a subir, pessoas cobrem o nariz para não inalar a poeira, meu cabelo de vermelho ficou branco. Mas eu não conseguia parar de pular. Eu e Gugs, diga-se de passagem, fizemos o melhor bate cabeça particular da história. Só deu a gente cantando as músicas que sabíamos, pois tinham outras, vou confessar, não sabia mesmo, comecei a enrolar, mas deu tudo certo. Amei o show. Foi demais. Algumas brigas, sim. Um louco sai do meio do maior bate cabeça de Feira de Santana, passa do meu lado, derruba uma menina no chão, rasga o cartaz da parede e cai em cima de um gordo enjoado. Lá no meio, outros começam a se espancar, mas logo são contidos. Pouca briga para tanta cerveja e Matanza. Mas o velho Jimmy fez um acordo: “Eu peço para os seguranças aliviarem daqui e vocês colaboram daí”. A gente colaborou sim, somos bons filhos do HC.