Desgraça que a Fiat teve coragem de colocar no Salão do Automóvel de 2004
A Fiat nunca foi muito feliz no segmento de médios. E com o Stilo a situação não foi diferente. O carro chegou cheio de status e refinamento, com itens nunca vistos em carros nacionais. Mas era caro, perdeu o fôlego e envelheceu; só foi substituído pelo Bravo em 2010 (atraso de quatro anos em relação à Zoropa) e se tornou um legítimo carro de manolo.
Depois do Brava, que foi lançado muito tardiamente e não vendeu o esperado, a Fiat resolveu tirar o atraso e trazer o então novo Stilo, igual ao europeu. Bom, ficaram de fora as versões duas-portas (que tinha frente diferenciada) e Multiwagon (perua), mas o novo hatch médio trazia os mesmos atributos do modelo do Velho Continente. Para o bem e para o mal: o design, que no Brava era o atrativo, pela ousadia tipicamente italiana, virou uma imitação sem graça do VW Golf, ainda que o design quadradão tenha agradado bastante na época. A suspensão era molíssima, o volante era frouxo e o motor PowerTrem retirado da Meriva garantia sonolência ao motorista. Seu diferencial estava nos mimos: vou repetir do jeito que estava no comercial.
- Dual Drive (direção elétrica). Você tem.
- Ar-condicionado Dual Temp. Você tem.
- NGI (Next Generation Interior). Você tem.
- Sky Window. Você tem.
- Criatividade, motor e segurança. Você não tem.
- Fiat Stilo. Ou você tem, ou você não tem.
(Eu não tenho! Graças a Deus!)
Até ar-condicionado de teto o Stilo tinha…
O Iskái Uíndou era uma vidraça que custava 10% do Stilo e se dividia em cinco lâminas, sendo que todas se elevavam, uma ficava à frente e as outras quatro, atrás. O NGI era só um nome chique para o rearranjamento dos bancos traseiros, que podiam correr para a frente, ser parcialmente rebatidos e reclinar, como numa minivan. O kit incluia também mesinha "tipo avião" e descanço de braço com porta-copos. E o Dual Drive é a atração para as barbeiras mulheres, que deixava a direção bem leve para manobras apertando-se o botão Civic City. A lista de opcionais era extremamente extensa e trazia itens de "alto luxo" para um nacional da época, como faróis de xenon (custava cerca de R$ 6.000), side-bags e window-bags (totalizando 8 air-bags). Um Stilo Abarth com todos os opcionais atingia inacreditáveis R$ 122.000.
Sonho de consumo de todo pobre
Se na Europa a missão de vender tanto quanto o Golf falhou miseravelmente, no Brasil o Stilo tinha vendas boas, afinal era confortável, espaçoso e bem-equipado. Mas os motores...
- 1.8 8v: PowerTrem da Meriva: tinha só 103 cv, era barulhento nas acelerações, e na estrada toma pau de qualquer veículo, até mesmo de caminhões e de cadeiras de rodas motorizadas.
- 1.8 16v: Virou mico graças ao preconceito dos braçileiros contra motores 16v. De fato ele era bem melhor na estrada, com seus 122 cv. Mas na cidade só andava bem ao se pisar fundo no acelerador.
- 2.4 20v: Mesmo motor do Marea, com 167 cv. Apesar da cavalaria e da cilindrada do motor impressionarem em termos absolutos, na prática não é bem assim: seu desempenho é compatível com o do Linea T-JET: que tem motor 1.4... O motor podia ser bom, mas a direção boba e a suspensão mole estragavam a festa. O 2.4 vinha exclusivamente no modelo Abarth, que saiu de linha em 2008 (só formalidade, pois naquele ano não tinha vendido sequer uma unidade). Ele tinha a mesma "facilidade" de manutenção do Marea, com reparos que podiam atingir cinco digitos.
Mas, qualquer que fosse a versão, comprar um Stilo era garantia de enjoo ao rodar. O Stilo sofreu poucas modificações até seu fim de carreira no Brasil, em 2010. Em 2005 chegava o motor 1.8 Flex, enquanto em 2008 ele ganhava uma reestilização barata, com piscas nos retrovisores gambiarrados da Idea Adventure, grade vermelha, frisos laterais cromados, lanternas tunadas e as toscas duplas saídas de escapamento falsas, sendo que a única verdadeira ficava mais abaixo. Uma cafonice que pela mãe do guarda...
Edições para trouxas
- SP: Homenagem aos
são-paulinoscidadãos de São Paulo (capital); foi uma série mais equipada. Chegou em 2004 para comemorar os 450 anos da cidade e foi reeditada em 2006. Vinha com detalhes cinza, rodas 17" e alguns itens a mais. Vale ressaltar que esta série especial foi vendida até mesmo fora de São Paulo.
- Connect: Sistema que permitia ao rádio “atender” ligações de um celular com Bluetooth. Era só ativar o viva-voz e sair falando
sozinho.
- Schumacher: Foi lançada em 2004 na euforia das vitórias do piloto alemão e vinha de série com Sky Window, rodas 17" exclusivas (modelo "garras de escorpião", que caíram rapidamente no gosto dos manolos) e a cor Vermelho Modena. No ano seguinte estreou o famoso Amarelo Indianápolis. Foi o início da manolização do Stilo, que na época era carro de playboy. Se nesta série o motor era 1.8 16v, imagine se a série fosse dedicada ao Rubinho Barrichello (certamente seria um Stilo movido a pedal). Saiu de linha logo após que Schummy abandonou a Fórmula 1.
- Sporting: Um dos modelos mais conhecidos pelo manolos, substituiu o Schumacher e de esportivo só tinha o visual. Como não andava porra nenhuma mas vinha com rodões, teto solar e cores chamativas, era um carro ideal pra "desfilar". Surgiu em 2007 e atingiu o ápice da breguisse do Stilo após o face-lift de 2008.
- BlackMotion: Era um Sporting melhorado, com os detalhes bregas ocultados por tons escuros. Tinha um bom pacote de itens de série, mas custava mais de 65 paus numa época que já haviam rivais mais modernos, como Focus, C4 e
R$ 1,30i30. Surgiu no Salão de 2008 com motor 2.4 do Abarth, mas foi lançado com o motorzinho 1.8 de sempre e o maior pecado desta versão: não tinha opção de câmbio manual, só aquela tranqueira automatizada TrancoLogic...
Já vai tarde, carroça!!!
- Attractive:
Atraía o Stilo contra as árvores.Era um modelo depenado, com calotas do modelo 2002 e nenhum dos detalhes esportivos que fizeram a fama do Stilera. Como os motores PowerTrem tinham que ser substituídos pelos E.TorQ até o final de 2010 e manter o Stilo com este propulsor adaptado seria caro e pouco rentável, depois ounAttractive virou versão única até o fim da produção.
Enquanto isso, no exterior...
O Fiat Stilo chegou na Europa em 2001 e deu adeus em 2007 para dar lugar ao Bravo. Neste meio-tempo, foi um carro apagado da linha italiana e teve versões duas-portas (bem discutível) e Multiwagon (o que se passa na cabeça destes projetistas...). Em 2004 chegou o modelo Uproad, um legítimo Plasticadventure, só que nascido na Itália.
Stilo solta-roda
Um dos episódios mais tensos do país veio à tona em 2008: algumas unidades do Fiat Stilo podiam apresentar falhas no conjunto do cubo das rodas, levando à sua soltura com o carro em movimento. Diversos acidentes foram causados, uma pessoa morreu, mas só em 2010 a Fiat foi condenada a pagar R$ 3 milhões de multa e fazer recall das unidades. Detalhe: nas unidades mais antigas, com esta peça vinda da Itália, o cubo não dava problemas. Mas quando passou a ser feito no Braçil...
Verdades
- Os bandidos libertados adoravam o Stilo, pois com o Sky Window podiam tomar aquele banho de sol, dentro do carro. Criminosos menos afortunados sentiam a mesma sensação ao comprar um Stilo 1.8 8v sem ar e com os vidros fechados pra pagar de rico.
- Apesar do Abarth ter sido a verdadeira versão esportiva do Stilo, rodas 17" e Sky Window nele eram opcionais e o visual era bem discreto. Já os pseudo-esportivos Schumacher e Sporting sempre trouxeram de série esses itens, além das cores vivas que os manolos tanto gostam.
- Atenção manolada, já tem Stilera por menos de R$ 20.000!!
- O Stilera atrai todo tipo de manolo, desde o forrozeiro até o psyzeiro, passando obviamente pelo funkeiro.
- As piriguetes ainda ficam com a calcinha molhada quando andam num Stiloso com Sky Window aberto.
- O Stilo reforça a tese de que o segmento de hatches médios é o preferido dos manolos. Afinal esta categoria reúne os principais sonhos de consumo dos portadores de
deficiência mentalOakley: A3, Golfera, Astrossauro, Stilera, Vectra GT, 307... - O Stilo nasceu como um carro elegante e discreto, mas morreu cafona e chamativo.
- O Stilo Attractive era menos atrativo até que um
KadettAstrossauro. - O Stilo Schumacher foi um lançador de tendências xuneiras: foi ele quem difundiu o Sky Window e o conceito de Stilo pseudo-esportivo feito pra desfilar, além de ter lançado uma das rodas preferidas dos manolos Fieteiros que andam de Palio ou Uno e inaugurou os tons vivos de vermelho e amarelo, que são a referência pra manolos que querem repintar seus makinões com uma cor mais quente.
- É bem mais legal andar com um iPad acorrentado no pescoço do que andar de Stilo com Sky Window aberto. (ih, já fui dar a ideia...)
- A Fiat recomenda para o Stilo o óleo de soja vendido pela Igreja Universal, abençoado pelos 318 bispos, pois só com um milagre ele funciona sem criar borra de óleo no cabeçote.