Foram 3 metros somados à perua e 540 quilos acrescidos às quase 2 toneladas
Você amou carros a vida inteira. Nada mais natural, portanto, que aproveitar seu rolê final para mostrar aos amigos que a gasolina corria em suas veias: vá para a cova de V8. O Grupo Bom Pastor, de Limeira, no interior de São Paulo, pode realizar o seu último desejo: a funerária tem na sua frota o Funeral Car 300C, o primeiro rabecão "tunado" do Brasil. O FC 300C é uma perua Chrysler 300C transformada pela Procópio Limousines, de Cianorte, Paraná. Em sete meses e R$ 160 mil investidos, chegou-se ao impressionante resultado final. O FC ronca forte com os 340 cv originais do motor V8 Hemi de 5,7 litros.
Comum em outros países, não há carros funerários como este no Brasil. "A carência de veículos que possam ser adaptados ao serviço funerário é grande", diz o pai da criatura, Nélson Pereira Neto, consultor de negócios do Grupo e entusiasta de rabecões personalizados. "Já alongamos cinco Doblòs de uma vez e foi uma dor de cabeça só." Ele afirma que o Chrysler 300C é diferenciado e perfeito como base para um carro fúnebre de alta qualidade.
Sem pressa
Ao volante, antes de dar a partida, somente uma ampla tela no lugar do retrovisor interno mostra que essa não é uma 300C Touring normal. Mas o que mais impressiona é a rigidez do conjunto ao rodar. Mesmo valetas encaradas na diagonal não produzem qualquer sinal flagrante de torção. A plataforma do 300, sólida de origem, suportou bem a extensão de quase 3 metros e o acréscimo de 540 quilos às já fartas duas toneladas da Touring original.
O bom comportamento dinâmico do Funeral Car é em grande parte creditado aos R$ 11 mil gastos na suspensão a ar, regulável nas quatro rodas. Um acessório indispensável, considerando as imensas rodas aro 22 - que incluem caixõezinhos personalizados nos raios - calçadas por pneus 265/35 de perfil baixo. Na ampla parte traseira, que comporta urnas funerárias de qualquer tamanho, há uma plataforma personalizada de acrílico e alumínio, banhada em luz azul.
Mas, na morte como na vida, não existe almoço grátis: segundo nossas medições na pista de teste, o Funeral Car 300C acelera de 0 a 100 km/h em discretos 10,3 segundos, sem lastro (entenda-se, sem qualquer passageiro na horizontal). Apenas como referência, o 300C V8 sedã original de 1.862 quilos, é 3,2 segundos mais rápido na aceleração. Nenhuma crítica quanto ao desempenho: o rabecão é um carro feito para desfilar sem pressa. É, contudo, nas frenagens que o FC mais sofre, exigindo muita pressão no pedal para conter tanta massa.
O berço do caixão e os botões que o movimentam e cuidam da iluminação
Todos juntos
Além de instrumento de marketing para a funerária, o carro é também uma tentativa de introduzir um hábito comum na Europa, mas raro no Brasil: os familiares do falecido acompanharem o cortejo no próprio carro fúnebre. Daí o alongamento do chassi, que possibilita a manutenção do banco traseiro amplo, com direito a telas de cristal líquido instaladas nos encostos de cabeça dianteiros, exibindo DVDs com mensagens de consolo aos que ficaram neste mundo. Nos atuais Mégane Grand Tour utilizados pela Bom Pastor, a adaptação para que o carro comporte caixões exige a retirada completa do banco traseiro.
Quanto custa passar para o além em grande estilo? Neto explica que normalmente não se alugam rabecões separadamente: o tipo de carro utilizado depende do nível do pacote completo contratado para um funeral. Mas o interesse em torno do Funeral Car 300C tem sido tamanho que a Bom Pastor decidiu abrir uma exceção: o carro pode ser contratado por qualquer interessado, mesmo para cerimônias de outras funerárias. O preço? Peça para sua família separar R$ 2.300 para o passeio final.
Nos bancos traseiros há telas de DVD que exibem mensagens de pesar aos familiares. Acima, os comandos da suspensão a ar
Megalomania sobre rodas
A Procópio Limousines, oficina paranaense que construiu o Funeral Car 300C, anda com a agenda cheia. Além de um irmão menor para o 300C - outro rabecão baseado em um Chrysler PT Cruiser - a empresa trabalha no que será a maior limousine do Brasil, uma Dodge Ram com nada menos que 11 metros de comprimento. A oficina já deu a luz também a outras excentricidades como uma limousine de três rodas, com dianteira de Harley-Davidson. E para quem não se incomoda com o excesso das criações ao estilo Las Vegas, o site da transformadora anuncia o próximo projeto ambicioso: uma Danceteria-Limousine com frente de... Boeing!