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Ansiedade. Você já esteve com essa sensação? A de querer que o tempo passe 48 horas em 24? Que o mundo gire, milhões de vezes mais rápido, para que o seu ego seja satisfeito? Certamente estou numa dessas fases, onde o imprevisível se torna desejado diariamente por mim.
Juro que tento não pensar. Estamos ainda na terça feira e o evento só ocorrerá no domingo. Por que eu tenho que ficar me sacrificando todos esses dias, em busca da resposta que sei que somente a terei no dito sétimo dia?
Estou tão louca com isso, mas tive uma boa recompensa, minha mente me presenteou com um dos sonhos mais legais da minha vida. Relatá-lo-ei agora.
Era uma noite chuvosa. Estava sozinha e perdida entre uma multidão de pessoas que estavam ali com o mesmo propósito que eu. Assistir ao show da banda Dominatrix. Nunca teria chance de chegar perto da Elisa Gargiulo, até porque ela estava acompanhada da lady Martins, e talvez eu fosse só mais uma chatinha querendo o seu autografo.
Não. Eu nunca fui assim. Prefiro um abraço a uma assinatura. Beijar papel? Isso jamais vai entrar na minha lista de coisas que devo fazer antes de morrer. Soou meio mórbido isso? Não, eu não penso em morrer por agora. Calma. Eu só tenho alguns planos, alguns objetivos, e certamente um autografo não está incluído entre eles.
Mas voltando a Elisa. Ela estava logo em frente, eu fiz questão, claro de ser a primeira pessoa da fila. Queria encará-la, olha-la, até esgotar toda a visão dos meus olhos. E por isso esperei algumas horas para ficar naquele lugar. Lá estava eu. Camisa preta. Saia jeans. All star cano longo preto. E os meus olhos fixados nela. A musa, a minha musa.
Como alguém poderia ser tão Elisa? Ela cantava, tocava guitarra muito bem. Sabia todas as teorias possíveis a respeito do feminismo. E o melhor, disseminava-as como a libertação do éter numa sala de aula.
Lembro dos seus discursos. Lembro de todas as palavras. Da coragem que deveríamos ter. De não nos inferiorizarmos. De não nos rebaixarmos por sermos do sexo feminino. Pelo contrario, ela mostrava todas as qualidades da mulher. A dela. A mulher Elisa. Porque não há como sintetizar as qualidades de todos os seres do sexo feminino. Mas eu sentia nela as vibrações. A sua luta mexer comigo. Levar-me a crer que não seria mais uma alienada no espaço.
Enquanto cantava, eu tentava alcançar sua voz com os meus gritos eufóricos recheados com su
as letras de paz e amor. Não, ela não é hippie, ela é feminista, o que eu também sou.
Elisa era tão ofuscante que eu não enxergava mais ninguém do meu lado. Também no começo não enxerguei, a não ser a Lady Martins (insisto chama-la assim, porque ela é muito lady). Mas Elisa sabia me comover, acho que da forma como ela atraiu Andréia, ela poderia me atrair, mas não com beijos e caricias e sim com o seu engajamento político tão semelhante ao meu. Talvez sobrasse tempo para uns beijinhos, mas isso não é tão importante quanto as suas idéias.
E lá estava eu cantando “Seu burro, seu idiota, que anti-social o que? Anti-social é uma mulher tentando andar numa rua escura a noite, que tipo de vida é essa que eu tenho que ficar 24 horas por dia alerta igual a um cão de guarda, quem são olhos que te vigiam, quem é a mão que te ataca?” Teria protesto em forma de música mais bonito? Talvez do Bulimia, mas eu não vou citar as garotas aqui porque o sonho foi com a Elisa, eu amo Bulimia, as letras são imbatíveis, FATO, mas eu continuo sonhando com a Elisa.
No fim do show ela se despede com um beijo e uma mão fechada para cima em sinal de FORÇA FEMININA.
Era Elisa. A garota dos meus sonhos, literalmente falando. Ela sabia mexer comigo como mais ninguém, e nós avançamos com a mesma luta. Não tive oportunidade de trocar umas idéias com ela, ou ao menos ter recebido o seu olhar como resposta. Mas sei que suas mensagens são seus ingressos de entrada. E os meus também. E naquele dia eu sai de um show mais pensativa do que nunca. Mais feminista do que nunca.