Será que devemos continuar?

Prey for Rock’n’Roll.. O filme que em português foi traduzido para Santuário do Rock conta a história da cantora e tatuadora Cheri Lovedog. Para falar a verdade eu nunca tinha ouvida falar nesta moça antes de assistir ao filme. Procurei algumas informações sobre ela, até para complementar o meu texto, mas não achei muita história.

O filme trata-se de uma autobiografia da banda que ela participava a Clam Dandy. Ela mesma foi quem fez o roteiro do filme, que eu particularmente achei fantástico.

É mais ou menos a história de todo roqueiro frustrado que chega aos 40 e ainda não fez sucesso. A protagonista do filme, muito bem interpretada pela atriz Gina Gershon, é a vocalista e guitarrista da banda. Ela é a mais velha da turma e acha que está na hora de parar com um sonho que se eterniza, mas não se concretiza.

As meninas que fazem parte da banda, ainda são jovens e sem nenhuma outra vocação querem continuar tocando, pois como elas dizem “é a única coisa que sabem fazer bem feito”, e por isso não podem parar. Mas fico eu imaginando como deve ser difícil para uma pessoa de 40 anos, e não sei mais quantos anos de frustração dar seguimento ao projeto. Digo isso porque eu tenho quase 3 anos com a mesma banda, claro que com muitas alterações de integrantes e tal, mas ao todo são 3 anos. E já me sinto super cansada a ponto de desistir de tocar. Imaginem uma pessoa que deve ter no mínimo aí seus 10 anos de música? Não é para todo mundo não.

(Assistam ao vídeo aqui!)

Achei bem legal também no filme a interpretação das atrizes. Elas realmente parecem tocar de verdade. A Gina Gershon eu sei que canta e toca violão, mas as outras atrizes eu não conheço. Vale ressaltar que a câmera focaliza o tempo todo elas tocando, então, acho que não são dublês que fazem essas partes e se for está muito bem feito! As músicas são muito boas e todas são composições da Cheri Lovedog. Além do que a trilha sonora do filme é contagiante, com músicas no nível de Now I wanna be your do Igggy Pop & Stooges.

Porém, o filme também soa como algo triste. É marcado por uma fotografia escura que mostra bem onde abismo em que se encontram algumas estrelas do rock começo de carreira. Bares localizados em ruas do subúrbio. Um público pequeno. E o mais importante, a desvalorização das artistas, principalmente por serem mulheres. Certo dia, a líder da banda recebe a ligação de um produtor querendo que elas assinassem um contrato com ele. Mas, o que estava no papel não era bem o que se esperava. Um baixo orçamento para gravação de CD, turnê, dentre outros gastos que se tem com banda, mas que quase ninguém liga para isso, (minha carteira que vos diga)!

Outro fato desconcertante no filme é quando a Jacki (Gina Gershon) se encontra com o produtor no show e ele pergunta por que ela não usa um vestido. Ela não precisa disso e sabe que esse é mais um dos velhos machismos de sempre, que para a mulher fazer algo e ter sucesso, ela tem de mostrar alguma parte do corpo em troca. Na verdade a Jacki já tinha medo que isso acontecesse até porque ela tem 40 anos (não parece), mas tem. E ela fala justamente isso no começo do filme, que não tem mais idade para seguir um padrão imposto. E creio que ela não faria isso nem se tivesse 15 anos.

É um dilema que vivemos, eu posso também falar nisso porque tenho uma banda só de meninas e percebo que a maioria dos elogios são: “Nossa, vocês são lindas” ao invés do esperado :”Pôxa! como vocês tocam bem”. Se não é dessa forma é “tocam parecendo homem”, para dizer que só os homens sabem tocar. É uma situação complicada porque queremos mostrar o nosso trabalho, a nossa produção de anos e as pessoas só percebem a embalagem. Novamente somos vistas apenas como produto e objeto não como seres que pensam e podem produzir assim como qualquer um.

Mas voltando ao filme. Nem tudo gira em torno da Jacki, há outros problemas, como a baixista que é viciada em drogas. Na minha percepção um dos maiores problemas de pessoas que estão no meio artístico é esse. Não falando que é pelo gênero rock, até porque acho isso um baita preconceito, como se aqueles cantores “ligadões” que passam na televisão seja de pagode, axé, samba, o que mais for, não se drogassem também. Claro que tem suas exceções, mas a maioria usa. E o filme retrata bem essa história de que as drogas prejudicam até o trabalho da pessoa. Como muitas vezes ela (Drea de Matteo) chegou atrasada nos shows, teve que se vender por estar sem grana para sustentar o vicio. Então tem algumas cenas fortes.

Eu me identifiquei bastante com o filme. Há outras cenas de desinteresse da vida pessoal por conta do trabalho, como muitas pessoas fazem. A Jacki tem um caso com uma garota logo no i

nicio, mas a coisa não vinga porque até nos momentos mais íntimos a banda interfere seu relacionamento o que provoca o fim do mesmo.

São casos e casos, que acho legal, nos fazem pensar a respeito da

vida, de como tudo pode acabar, como agirmos, se estamos realmente indo pelo caminho certo. É um filme para refletir e não apenas assistir. Por isso desta vez indico Prey for Rock para vocês .