Percebi que estava com sede quando o gosto seco e vazio da boca brotava como água em fonte de liquidação. Corri para a prateleira repleta de copos, alguns coloridos, outros estampados, mas os de minha preferência eram lisos, transparentes, mania de poder enxergar com clareza o interior dos objetos.
Com a garrafa em mãos, derramei o líquido até o limite, mas não tive controle suficiente e fios de água escorreram pelo copo, pareciam pesados, tudo problema da força de gravidade.
Fiquei com vontade de tocar, apertei o copo com força e o máximo que consegui foi molhar os dedos. Os fios se transformaram em gotinhas, e a umidade da minha mão passou ao rosto, depois que encostei suavemente os dedos na minha face. Fazia calor e o frescor da água aliviou por instantes aquela sensação desagradável.
Recordei-me das propagandas de sabonete onde as mulheres se tocam de forma inverossímil. Naquele momento eu queria estar assim, distante da realidade, ser uma sereia para um copo de água e nadar nas profundezas do vazio.
Como um simples gesto diário me transporta para outro mundo? Isso eu não sei dizer, talvez eu esteja desejando férias, com direito a praia, sol e bebidas cítricas ou talvez, nada disso seja importante e eu esteja aqui somente tentado agregar lembranças de imagens passadas.
Gota a gota saboreei o gosto daquela água transbordando pelo copo. Gota a gota pensei no sabor que deveriam ter, gosto de futuro que preserva o presente e almeja o passado.