Ele tinha uma coleção de revistas, coisas antigas de mais de dez anos. As notícias se mostravam velhas, nada semelhante ao presente, não fazia sentido guardá-las.
Sentou-se em frente a pilha de folhas, leu algumas poucas e percebeu que não se identificava mais com aquilo tudo, era apenas acúmulo impróprio, estimulante de poeira e insetos.
Juntou tudo em vários sacos, pois a quantidade era significante, e doou para uma instituição de ensino. Não se arrependeu.
Refletiu sobre as revistas e pensou se podia fazer o mesmo com a vida, doar o passado a alguém e se identificar com o futuro. Tirar o peso das costas, talvez, decifrar o acúmulo e jogar ao vento.
- Ah, se pudéssemos doar algumas experiências e contrair outras, como um bazar de trocas e vendas!
Mas não era possível. Arrependia-se de grande parte do que tinha feito na vida, das brigas, das oportunidades perdidas, dos estudos e da família. Lembrou-se o quão era sozinho hoje e por isso tinha mais vontade ainda de doar todo aquele sentimento vazio e ruim.
As páginas da sua mente estavam rasgadas e desgastadas, ma o conteúdo era radiante. A todo o momento recordava períodos que não queria viver. Mas viveu, e perdeu-se nos sonhos de imagens escuras. Não enxergava nada ao não ser o passado. Tempo que não queria lembrar.
Acordou assustado, mas com uma idéia que pôs em prática logo que pôde. Ligou o computador, decidiu criar um blog e vender as experiências da vida.