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Friday, September 16, 2011

Autora desfigurada



Ela queria ter uma visão ampliada do mundo, enxergar além, analisar as entrelinhas, no entanto sentia-se incapacitada pelo árduo gosto da inferioridade. Era pequena em meio a multidão, ninguém acreditava em seu potencial, passava muitas vezes despercebida, de vez em quando ficava chateada, mas logo comprava uma barra de chocolate e pronto, sentia-se feliz novamente.


Era esforçada, pesquisava métodos de crescimento, conseguia desenvolver potencialidades, mas o medo rondava-lhe a mente como fumaça em beira de estrada. Sem querer, acabou existindo apenas no mundo virtual. Adquiriu nome novo, fez fama, escrevia como ninguém. Mas nunca revelou a face, principal organismo de identidade. Reconheciam-lhe pela imagem cortada, rasgada ao meio, algo semelhante a sua alma.

Se comentassem sobre os assuntos que descrevia nos sites, não saberia falar. Ficava muda. Parecia que nada daquilo era produção própria, autoral. Que raios de mulher é essa? Ninguém saberia dizer. Houve inúmeras buscas, contrataram hackers para descobrir, afinal o paradeiro daqueles pensamentos.

Sabiam que não era roubo, tudo original e por isso mesmo aumentava o gosto pela procura. E a pobre mocinha, em casa, com medo e feliz por prestarem atenção nela. Era a estrela da vez, mas não tinha rosto, os jornalistas precisavam de fotos, estampar imagens nos jornais, não queriam texto, “letra por letra já temos demais”, alguns diziam.

Uma manchete chegou a anunciá-la como a autora desfigurada. Veja que horror, a que ponto chegaram?!

A mocinha não desistiu, continuou a escrever e os textos ficavam cada vez melhores, o problema era o rosto. O que será que não poderia mostrar? Cicatriz, tatuagem, verruga? As possibilidades não cessavam, fotos falsificadas apareciam aos montes na internet, revelando a “verdadeira” identidade da estrela. Mas a estrela não queria brilhar e as pessoas não entendiam esse direito.

Por isso, o fim da história termina assim, sem explicação porque as decisões que tomamos muitas vezes não precisam de respostas, cada um cria o que bem entende e define como quiser. Com certeza a sua mocinha é diferente da minha, mas ambas continuam mocinhas.
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