O texto que escrevo hoje não é uma resenha crítica sobre a obra de Oscar Wilde, mas algumas reflexões sobre o livro que de tão fantástico instiga o leitor a querer expor todos os seus sentimentos sobre a obra.
O retrato de Dorian Gray relata a história de um jovem muito belo que ao ser pintado por um artista deseja que a velhice nunca chegue ao seu corpo, ao invés disso, a “feiura” da idade deveria encontrar sua face no quadro e não em seu físico real.
De fato, isto acontece, Dorian não envelhece, acontece o inverso. O rapaz permanece com uma beleza extraordinária e sua figura no quadro passa a adquirir as marcas do tempo, mas antes disso, ele conhece Lorde Henry, amigo do pintor Basil Hallward. É a partir desse encontro que o rapaz começa a sofrer fortes influências maléficas, Henry tem grande poder de argumentação, mas suas opiniões sempre vão de encontro ao que as pessoas pensam.
Uma de suas questões faz com que Dorian comece a ter sentimentos narcisistas. Sua beleza está acima de todos. Henry argumenta da seguinte forma: “A beleza é uma forma de genialidade, é na verdade, mais elevada que a genialidade, pois não carece de explicação. Pertence aos grandes fatos do mundo, como a luz do sol, a primavera, o reflexo das águas turvas, ou aquela concha prata a que chamamos lua. Não pode ser questionada”.
Esse pensamento nos deixa com aquela sensação de que tudo que refletimos até hoje sobre moda e beleza vão por água abaixo. Quando tive aula na universidade sobre jornalismo de moda, passei a ver o assunto com outros olhos. Antes confesso, achava tudo superficial, preocupação tola de gente que não pensa. No entanto, os estudiosos se preocupam com outros detalhes, percebem a influência da moda na sociedade, como identificar pessoas através dos trajes, como refletir sobre grupos somente pela cor, pelos símbolos que a roupa pode traduzir. Claro, não posso enumerar aqui todas as reflexões, mas são notórias quando o assunto é compreender o outro.
Mas voltando a fala de Henry, quando ele diz que a beleza é mais elevada que a genialidade porque não carece de explicação é realmente lindo. A gente sempre critica a beleza quando é direcionado ao ser humano, mas quando fazemos uma trilha, contemplamos a natureza percebemos que aquilo é lindo e não precisa ser questionado, é simplesmente belo e ponto, resta a nós apreciar a beleza e principalmente, conservá-la.
Aí é que está a questão. Por que desejamos preservar o belo da natureza e quando falamos em conservar a beleza humana achamos ruim ou ditatorial? Esse ponto me fez lembrar de uma resposta de Henry sobre isso. Ele diz que o que preocupa os idosos não é a velhice, mas a presença dos jovens.
Não estou aqui defendo a busca desenfreada pela beleza com cremes, plásticas e todos os recursos possíveis, até porque questiono muito isso. Mas, vale a pena refletir sobre o pensamento de Henry.
Os argumentos são ótimos, o livro é cheio de diálogos entre Dorian, Basil e Henry. Mas, a adoração pelo belo acaba por arruinar a vida de Dorian. Ele comete atos, é responsável pela morte de pessoas, não se culpa por isso em alguns momentos de sua vida. Para ele, ter a beleza que possui significa estar acima de todos e seja quais forem os seus atos nunca deve ser questionado por isso, afinal é tão belo que ninguém jamais pensaria nada de ruim dele.
Wilde influenciou muitas gerações pelo olhar voltado a beleza. O rock passou por grandes transformações nos anos 70, com roupas coloridas, maquiagens exageradas, tudo voltado para o excesso, como assim é Dorian, o rapaz que colocou em prática o hedonismo de Henry.
David Bowie, é um grande destaque da época, que talvez teria agrado Oscar Wilde pelo teor das letras e pela relação com a homossexualidade tão presente também no Retrato de Dorian Gray, mas de forma não detalhista.
Mas a obra não trata só de beleza, há várias questões no livro a serem refletidas como pensamentos sobre felicidade; a influência que exercemos nas pessoas; suicídio; a estética; crises de pensamento.
É realmente uma obra rica e fantástica, gostaria de fazer um texto melhor sobre o assunto, não saiu como eu gostaria, mas espero ter transmitido a vocês um pouco do que Oscar Wilde motivou em mim nesta semana.