
São 3 horas da manhã. Retornei de um evento, a pouco tempo, realizado perto da minha casa. 2 bandas se apresentaram. A primeira não conhecia, é um forró sei lá. De péssimas letras. Chama-se Cavaleiros do Forró. Tinha uma música em que falava que as mulheres só querem homens que tem dinheiro. Não importa se ele é feio, burro, qualquer coisa do tipo, basta o “karatê”. Era impressionante como várias mulheres cantavam a música, sorridentes. Fiquei analisando a expressão de cada uma delas, que estava ao meu alcance, claro, tinha muita gente. Será que elas não pensam o que estão pronunciando? Será que não passa por um minuto na cabeça delas que aquela letra é uma ofensa as mulheres. Por que elas cantam? Por que elas aplaudem? Não consigo entender. É demais para mim.

Passam-se alguns minutos e uma moça com uma roupa vermelha bem comportada, estilo esporte. Sabe quando os jogadores de futebol saem do campo, todos com aqueles casacos grandes e calças folgadas? Pois bem, a moça vestia-se desse modo. Ela estava dançando, sensualmente. Depois cai a ficha. Ela está vestida para se despir. Começa a música e a letra já anuncia: “Tira a roupa todinha”. Ela começa a tirar o casaco, depois a calça. Fica somente de top e um short estilo calcinha com a ponta das nádegas a mostra. E ela fazia questão de mostrá-las.

Ela praticamente dançava de costas para o público a fim de mostrar a única coisa que importava naquele momento, não a sua presteza em dançar, mas um pedaço de carne pronto para ser devorado. Minha vontade naquele momento era de ter um cartaz com frases feministas que a fizessem refletir sobre os seus atos. Afinal, você não está à venda. Valorize-se, você não está pendurada num açougue. No entanto, foi só um pensamento de vários que tenho nesses terríveis momentos. Ainda vou ter um grupo de ação feminista. Por enquanto a ação vem através da música, mas em breve já tenho planos desse movimento partir para outras atividades mais chamativas para a sociedade. Penso num futuro melhor para minhas companheiras, não quero que a vida toda seja assim. As meninas têm que ter consciência do que aquilo representa. É o discurso machista embutido ali, estampado na frente delas e elas não conseguem enxergar, é incrível.

Bom, não só no palco existiam essas figuras. Era no público também. Não tenho nada contra o vestir. Por mim as pessoas se vestem como queiram. Eu particularmente queria muito poder andar sem camisa. Deve ser maravilhoso, fresco, confortável, mas o meu gênero não permite isso. Então deixo para fazê-lo em casa, sozinha, porque sei que não vou ouvir piadas estúpidas sobre o meu comportamento. Voltando. Tinham várias praticamente nuas. E elas gostavam de se exibir como um frango assado. Não era algo de confortável sabe? Estou me sentindo bem assim. Não, era para chamar atenção dos homens. E isso me incomoda. Mas uma vez aqueles pensamentos voltam. Por que gente, por que. Os homens a chamavam de gostosa, de delicia, de tudo que era besteira ou do mais baixo nível possível. E ela sorria. Você não precisa provar para ninguém que está se sentindo bem com sua beleza, nem vão ser homens que vão avaliar se você é “bonita” ou não. Tosco. Tosco. Mil vezes tosco isso. Eu não agüento. A vontade que tenho e de chamar uma por uma para conversar, mas elas não entenderiam assim, numa conversa rápida de show. Ainda mais se elas foram único e exclusivamente, para esse propósito.

Então, depois de um longo show a banda de reggae Adão Negro entra em cena. Vi o meu primo lá na bateria tocando, o Aurelino. Lembro dele mais novo. Insistia em não querer estudar, o que ele gostar mesmo era de tocar bateria, e lá estava realizando o seu sonho. Vivendo de música. Eu fico tão feliz quando vejo as pessoas que conviveram ao meu redor se dando bem. Progredindo e não desistindo de fazer aquilo que realmente deseja. Eu continuo com a minha banda, mas não sei até onde vamos. Sei que é preciso curtir como se fosse o último, todos os momentos. E tento fazer isso ao máximo, mesmo que às vezes eu me stresse com os probleminhas que todo show tem. Se o nosso destino for levar a nossa mensagem a um público imenso, ficarei feliz, pois assim desejei a minha vida inteira. Mas se não for, ficarei feliz em lembrar, mais tarde, de todas os sorrisos advindos de um dia de música inesquecível.