
Hoje em dia parece que todas as conversas, sobre qualquer assunto, se transformam em um debate sobre o politicamente correto, tanto que muitos se isolaram de opiniões divergentes só para evitar confusão. O resultado disso são bilhões de umbigos no centro do universo. Mas um encontro ao acaso com um Lincoln Continental verde metálico convertido para picape foi um lembrete de que existe um lugar onde o pluralismo ainda reina.
Qual o sentido de se conversar com outras pessoas? Elas sempre estão erradas. Não importa no que elas acreditem. Qualquer tipo de gentileza ou interação não passa de um convite para ouvir de outra pessoa como ela “tem certeza que o diretor do colégio é um petista” ou que “existe um carro que roda com folhas de maconha, mas as petrolíferas não deixam ninguém conhecê-lo”.
Ainda assim, quando eu vi o senhor com camisa xadrez parando no posto de gasolina em um veículo impecável, nem parei para imaginar se sua placa personalizada (“Agricom”) indicava se ele era um latifundiário conservador ou apenas um funcionário de fazenda. Simplesmente fui até ele, me apresentei e comecei a lhe perguntar sobre a picape.
Esta foi a primeira vez que vi um dos raros Lincoln Continental transformados em picape e eu estava determinado em descobrir sua história. Este exemplar da edição especial “Farm and Ranch” foi, segundo o cavalheiro que a guiava, o sétimo de doze unidades produzidas, e comprada zero de uma concessionária Lincoln por outra família.
Ele usava o caro para rebocar um pequeno trator até uma oficina.
Era impressionante, com o relógio Cartier original e o toca-cartucho de 8 pistas. O teto era coberto com uma camada de vinil que descia pela coluna B e alcançava a traseira do carro pela lateral da caçamba.
O dono ficou radiante ao falar da picape, até abriu o capô para mostrar o V8 460 (7.5) Ford de 370 cavalos que deve beber um litro de gasolina a cada dois quilômetros. Ele até se ofereceu para enviar fotos do carro caso eu estivesse interessado. E como estava (confira as fotos na galeria).
Apertei sua mão, admirei a fivela de seu cinto e agradeci a gentileza.
Será que importava o fato dele ser do campo e eu da cidade? Que éramos de gerações diferentes? Que ele poderia ser um liberal populista e eu um cristão conservador? Ou vice-versa? Não.
E não importou para o homem de meia idade que chegou até ele, com o celular na mão, esperando obter alguma informação sobre o veículo conforme eu me distanciava.
No final das contas, ainda há um nível no qual a política e os carros estão irreversivelmente interligados. É inevitável. Mas isso está em um nível macro e deveria ficar por ali. A cultura do carro é a resposta para alguns de nossos problemas, não o problema em si.
Fonte: jalopnik
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